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Nunca fui o tipo de jogador que fala sobre arte. Sempre achei que isso era coisa pra quem entende de luz, cor e composição — não pra quem lida com relatórios e o peso do que pode acontecer em caso de acidente.

Mas tem jogos que não pedem que você entenda. Eles só pedem que você aprecie.

E foi jogando Clair Obscur: Expedition 33 que eu experienciei algo que me fez repensar sobre arte nos jogos.

O impacto que chega sem aviso

A história acompanha um grupo tentando impedir o inevitável. Todo ano, uma entidade chamada “A Pintora” pinta um número — e todas as pessoas daquela idade simplesmente desaparecem. Você faz parte da Expedição 33, a última chance da humanidade antes do próximo número.

Em meio à jornada, algo acontece. Algo súbito, sem aviso, que muda tudo…
E naquele instante, o jogo me atingiu de um jeito que eu não esperava.

Porque é assim que a vida é às vezes:
uma linha se rompe, uma história termina sem preparo, e o que resta é o silêncio.

E, por mais que Expedition 33 fale sobre o tempo e o fim, o sentimento é o mesmo de algo que vejo de perto no meu trabalho — quando o inesperado acontece, sem aviso e sem volta.

Não é sobre tragédia, mas sobre a fragilidade da vida.
E é aí que o jogo começa a dizer muito, mesmo sem precisar falar ou mostrar.

Um mundo que se pinta e se apaga

O visual de Expedition 33 é deslumbrante.
Mas não é uma beleza leve — é uma beleza que dói.

Cada cenário parece pintado com melancolia, como se o mundo estivesse se desfazendo enquanto você o atravessa.

Mesmo sem entender de arte, eu sabia que estava vendo algo feito pra apreciar. As cores, a iluminação e os contrastes entre luz e sombra carregam emoção em cada detalhe. Jogar se torna quase um ato de resistência: tentar restaurar uma pintura que o tempo insiste em apagar.

“Mesmo sem saber explicar, eu sabia que estava vendo algo feito pra apreciar — não pra entender.”

O combate como expressão

O sistema de batalha mistura turnos e ação em tempo real. É preciso reflexo, ritmo e atenção — como se cada luta fosse uma dança entre precisão e paciência. Errar o tempo é tropeçar; acertar é harmonia pura.

Há uma arte no próprio ato de jogar. Cada esquiva, cada golpe bem cronometrado, cada nota da trilha que acompanha o movimento — tudo parece parte de uma coreografia.

E quando tudo se encaixa, você sente que está criando algo empolgante em meio à luta.

A decisão que te encara de volta

No final, o jogo te coloca diante de uma escolha que carrega um peso raro. Não vou revelar nada, mas foi uma das decisões mais simbólicas que já vi em um videogame.

E ela me fez parar, refletir e encarar uma pergunta difícil: o que é ser corajoso, afinal?
É enfrentar o inevitável?
Ou aceitar o que não podemos mudar?

Poucos jogos conseguem esse tipo de silêncio — aquele em que você não é mais jogador, é só alguém tentando entender o que sente.

“Não foi o jogo que acabou. Fui eu que fiquei parado, tentando entender o que senti.”

Arte, mesmo sem saber explicar

Depois dos créditos, percebi que talvez arte seja isso: quando algo te toca de um jeito que você não sabe explicar.

Eu não entendo de estética nem composição, mas sei que Expedition 33 me fez sentir o mesmo que um bom filme e uma boa música — mesmo sem entender a letra.

Se arte é aquilo que desperta emoção e te faz pensar — então sim, videogame é arte.
E digo isso não como crítico, mas como alguém que viveu essa experiência e saiu pensativo no final.

O último traço

No fim das contas, Expedition 33 me lembrou algo simples: a vida — assim como a arte — pode acabar num piscar de olhos.

Mas enquanto dura, merece ser sentida, observada e, acima de tudo, apreciada.
Porque toda obra-prima, cedo ou tarde, chega ao seu último traço.


Autor

  • Carlos Alberto Siderscreed

    Técnico de Segurança do Trabalho com prazer, porque se desejam ficar ricos, escolham outra profissão. Nas horas vagas, me aventuro nos mundos dos jogos, sendo um guerreiro corajoso, um ladrão astuto e um assassino implacável e, é claro, falho em todas essas missões com maestria.

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